Conceitos de Guerra Assimétrica Aplicado aos Negócios
Trabalhar com assimetria tem sido muito constante
ultimamente. Nada hoje em dia tem poderes similares, em escala horizontal,
todos os organismos que funcionam em determinada sociedade, atuando entre si,
têm poderes desiguais, e todas dependem umas das outras, poder público,
privado, leis, economia, etc. A guerra assimétrica parte de princípios que os
atores participantes têm diferentes poderes, diferentes expressões, e entre si,
lutam por seus interesses, disputando de forma vertical sua posição umas diante
das outras. Mas da para trabalhar com conceitos de forcas armadas dentro dessa
diversidade de poderes dentro de empresas ainda assim mantendo os conceitos
clássicos da administração?
Para começar deve-se entender o que é guerra
assimétrica.
Guerra Assimétrica é um conflito entre dois ou mais
atores de vasta diferença de capacidade, em que os beligerantes podem
diferenciar sua essência no embate, interagir e explorar cada um suas
características de fraqueza. Este conceito se deu a partir do momento em que os
atores que tomam parte da guerra não são exclusivamente militares, têm atores
de todos os níveis da sociedade.[1]
Enquanto a Guerra Assimétrica compreende um vasto escopo de teoria,
experiência, conjectura e definição, também implica na premissa que lida com o
desconhecido. Quanto mais diferente o oponente, mais difícil antecipar seus
atos.[2]
A guerra convencional trata apenas com assuntos
militares, na guerra assimétrica, os atores não são por muitas vezes
identificados no campo de batalha, portanto, deve ser observado por um todo,
desde o poder militar até civis envolvidos e tecnologia utilizada. Diferente do
conceito de Clausewitz, a guerra atual tem participação da população, civis
armados, não fardados, conhecedores de tecnologia de informação que podem atuar
diretamente na guerra, além da mídia que trabalha a opinião pública, podendo
ser um agente contrário a decisão política.
Após definir Guerra Assimétrica, deve-se entender como
um grupo que opera em ordem assimétrica deve se preparar, para isso, busco o
conceito do Asymmetric Warfare Group,
do exercito dos Estados Unidos criado na Guerra ao Terror.[4]
Aqui tratarei exclusivamente de sua função núcleo.
O Asymmetric
Warfare Group do exército americano tem como funções chaves.
- Advertir pessoal operacional, aconselhando com uma assistência de pré-implantação de métodos e cenários para derrotar ameaças atuais e emergentes.
- Identificar lacunas de capacidade, já visando exigências futuras do exercito, deve haver análises dos ambientes operacionais e identificar possíveis falhas na capacidade, além de futuras zonas de conflito.
- Desenvolvimento de soluções, feito de maneira rápida com transição imaterial e contramedida material, criando vantagens táticas e operacionais em favor das operações unificadas.
- Auxiliar na integração DOTMLPF[5], integração que visa Doutrina, Organização, Treinamento, Material, Liderança e educação, Pessoal e Instalações.[6]
Trabalhando em cima da integração DOTMLPF, as empresas
hoje em dia estão por muitas vezes fora de um contexto do cenário em que se
encontram, exatamente por não estarem integradas de tal forma, nem possuírem um
setor especifico que integre seus valores, materiais ou não.[7]
A grande ideia chave é trabalhar com estratégia,
tática, capacidade e acessos para negar a força oponente. Qual seria então a
função núcleo de DOTMLPF dentro da administração privada?
Seria adaptar principalmente as funções de
administração clássica a constante assimetria de poder das empresas que buscam
seu espaço. Deve-se entender que as empresas mais fortes podem ter capacidade
financeira, mas a legislação favorece muito a empresas de pequeno porte. Essa
função não esta visando proteger empresas grandes ou pequenas, simplesmente
orientar que todas elas têm condição de brigar no mercado.
Funções estas que seriam:
- Doutrina estaria ligada filosofia da empresa, uma lei costumeira interna que estipula sobre as atitudes dos funcionários, garantindo seus valores e visão.
- Organização é como a empresa está organizada. Sua hierarquia; sua cultura.
- Treinamento está na integração direta da necessidade da organização com os funcionários, uma constante serie de simulações e dinâmicas de grupo, cursos internos, etc.
- Material são os recursos utilizados, quais meios que a empresa tem disponível para atingir seus fins.
- Liderança e educação têm a ver com o papel do líder em integrar a equipe, motivando seus subordinados e integrando sua equipe; e educação é estar sempre se atualizando, buscando conhecimento e passando para os demais, com a equipe toda integrada, incentivando especializações.
- Pessoal e todo o efetivo, trabalhando junto, cada um com sua função, manter pessoal reserva para substituir em suas tarefas.
- Instalações são os espaços físicos da empresa, cada setor dividido com sua liderança, ambiente propício para o trabalho de forma que todos se sintam confortáveis para trabalhar.
Neste caso a doutrina tem uma vasta importância, que
muitas vezes os gestores/empresários deixam se levar por novas teorias que
quebram paradigmas, esquecendo muitas vezes o escopo. Quanto mais desigual o
poder, mais difícil é antecipar os atos dos concorrentes. A doutrina deve
fornecer uma maneira de pensar sobre a assimetria e sobre a filosofia
operacional, que seria tornar a assimetria em conta.[8]
Segundo Ancker, lidar com o inesperado exige rápida
adaptação à situação real, ao grau que se a doutrina torna-se excessivamente
perspectiva, torna-se irrelevante. Para ser efetiva, a doutrina deve criar
flexibilidade de pensamento e ação; deve estar predicada no desconhecido e não
atada a solução de problemas; deve ser constantemente revisada em todos os
níveis e; deve capitalizar nas vantagens assimétricas.[9]
Conhecendo
o ambiente de atuação
Conhecer o ambiente que a empresa deve atuar é
prevenir qualquer possível perda, tanto física quanto econômica. Exemplo: se a organização
é de logística, o conhecimento de rotas e fundamental para evitar o máximo à
perda de material e atrasos. Trabalhar com licitações requer conhecimento de
lei, cumprimento de normas, prazos, evitando o possível de perda de tributos.
Na “teoria da Guerra Assimétrica”, todo o ambiente
deve ser tratado como cenário de atuação, além disso, todo possível cenário
deve ser trabalhado, evitando o pior deles. Dentre todos os cenários, existe
uma zona híbrida em que todos os agentes atuam juntos. Desde o cenário
catastrófico ate o cenário mais tradicional, todos eles hoje em dia interagem,
a rede foi um fator decisivo, portando diversificar as áreas de atuação, saber
operar em todos os ambientes os quais a empresa se propõe é um passo decisivo
para sua sobrevivência.[10]
Cada empresa tem um tamanho e uma expressão na área em
que atua, essa disputa dada de forma desigual deve ser toda pautada, conhecer
as próprias fraquezas e o ambiente em que atua faz com que possíveis erros
futuros sejam previstos, assim conhecer o nome o adversário no mercado,
possibilita traçar estratégias que evitem uma disputa desfavorável.[12]
Como então se tornaria o cenário em um ambiente de
anarquia entre organizações?
Através da adaptação do cenário por um todo.
A condição de atuação no mercado depende de trabalhar
a transação da empresa para a inovação e sobreviver dentro das tecnologias
disruptivas. Neste caso, salvaguardar no sistema tradicional mantém a empresa,
porém não leva ela a competir no mercado. Trabalhar a tecnologia apenas é
salvaguardar a empresa em um cenário de riscos. Trabalhar em cenário irregular
leva a empresa a um cenário de competição entre empresas de mesmo foco. Passar
para o cenário de maior risco também requer maior recompensa. Este cenário pode
ser retratado dessa forma, em adaptação ao cenário estratégico militar:[13]
Neste caso, o trabalho da inteligência é fundamental
para exercer essa posição, trabalhar com precisão nos dados, informação,
avaliação de riscos, antecede qualquer problema, formula cenários desfavoráveis
e favoráveis e suas possibilidades e, desta forma, trabalhar em cima dos mais
favoráveis. Apesar de diferença na condição de organizações, uma empresa menor
pode antecipar qualquer ação de uma maior, fazendo com que aquela saia
derrotada numa negociação. Como fazer isso?
Existem ferramentas que trabalham integrando ações
diversas na empresa, com essa integração de pessoal e setores. Quais seriam?
No meio militar o uso de abreviação Cx faz
com que direcione uma integração que parte de comando e controle (C2).
Atualmente a empresa passa a trabalhar com uma série maior, além do C2, a
empresa deve estar integrada na comunicação, informação, aquisição de alvos,
reconhecimento, não sendo mais um termo militar. O C3I, por exemplo, que
trabalha com Comando, Controle, Comunicação e Informação é chave para o sucesso
da empresa, assim como o trabalhar com C4IS que agrega computadores e sistemas
de simulação.
Este tipo de estratégia não é exclusiva do meio
militar, pode-se adaptar ao meio corporativo buscando aperfeiçoar os
resultados.
Para a empresa resistir atualmente deve estar
integrada e com capacidade de sobrevivência no que o mercado exige capacidade
de difundir sua área de atuação, possuir vantagens competitivas e inteligência
estratégica. Tratando dos estratagemas utilizados pela empresa, ela pode variar
sua estratégia, no caso:
- Comandar e controlar (C2) faz parte do exercício da autoridade de um comandante, alguém que seja capaz de designar funções a um arranjo de pessoal, equipamentos, comunicações, instalações e procedimentos.
- Computadores e comunicações são tecnologias que servem para transportar a informação, armazenar dados. Dois agentes facilitadores do C2.
- Inteligência é o produto da coleta, integração, processamento, analise, avaliação e interpretação das informações disponíveis.
- Simulação é importante para que a empresa trate de situações reais com treinamento constante, cada vez buscando mais resultados em menor gasto de tempo e energia à resolução de problemas.[15]
O processo de inteligência não e um processo linear, porem
um processo integrado desde a avaliação até o retorno (feedback), buscando atingir a missão. Este processo integra a
disseminação e integração de informação, planejamento e direcionamento, análise
e produção, coleta de dados, processamento e exploração, tudo isso girando e
interagindo em torno do foco principal da empresa.
Conclusão
Um dos maiores problemas que as empresas enfrentam
hoje em dia está em não ter um profissional qualificado para tratar com seus
assuntos, não ter um pessoal de inteligência qualificado, o vazamento de
informação e não filtrar informação, estes são problemas graves e comuns que
fazem com que muitas empresas não sobrevivam no mercado.
Muitas empresas trabalham com desinformação, e essa
falta de capacidade em controlar o que se recebe de dados, os constantes
problemas com espionagens, gastos desnecessários fazem com que o excesso em
pouco tempo as empresas cheguem a falência.
Tanto no aspecto legal quanto no aspecto econômico,
toda organização tem condição de competir no mercado, aproveitando suas
vantagens, competindo com concorrentes muitas vezes maiores, mas para isso deve
estar sempre integrado com as exigências do mercado, acompanhar a tecnologia
faz parte do processo, contudo a figura do trabalhador ainda e parte essencial,
deve-se sempre incorporá-lo a equipe, treiná-lo e fazer com que este sempre
esteja atualizado, se especializando dentro das novas cadeiras que o mercado
pede.
[2] ACKER – C. J. –
Doctrine for Asymmetric Warfare. Military Review.
2003. P. 18.
[3] Quadro expõe o foco da Guerra Convencional e da Guerra
Irregular. Na guerra irregular o maior problema esta em trabalhar governo e
população atuando na guerra, já que a população é um agente atuante na guerra,
com civis armados, mídia, guerra cibernética, etc. PLANT, J.T. Jr. – http://www.defenceandstrategy.eu/cs/aktualni-cislo-1-2008/clanky/asymmetric-warfare-slogan-or-reality.html#.UboLKvk3uQQ – Acessado em 13/06/2013.
[4] Grupo parte do exército Americano. Criado na Guerra
Contra o Terror é um grupo de aconselhamento do exército, que visa dar suporte
em escala global ao exército, garantindo capacidade de sobrevivência do soldado
e efetividade do combate, prevendo e derrotando ainda qualquer força emergente.
[5] Doctrine, Organization, Training, Material,
Leadership and Education, Personnel and Facilities.
[7] Muitas vezes não integradas por falta de comunicação
interna ou mesmo a terceirização, e distância entre terceirizados e
funcionários.
[8] ACKER – C. J. –
Doctrine for Asymmetric Warfare. Military Review.
2003. P. 18.
[9] Ibidem. P.22 e 25.
[10] Diversificar capital é diversificar todo o ramo de
atuação, interligando todos eles em apenas uma empresa. Logo a necessidade de
pessoal qualificado para essa integração.
[11] Modelo de cenário de Guerra Assimétrica, dentre eles
os cenários tradicional, irregular, catastrófico e disruptivo. No meio deles
existe uma zona híbrida, em que todos os fatores descritos nos cenários se
encontram. PLANT, J.T. Jr. – http://www.defenceandstrategy.eu/cs/aktualni-cislo-1-2008/clanky/asymmetric-warfare-slogan-or-reality.html#.UboLKvk3uQQ – Acessado em 13/06/2013.
[12] Ainda que
diversifique capital, cada uma delas têm vantagens em determinadas áreas, devendo
estas ser mais exploradas.
[13] Tecnologia Disruptiva é a tecnologia que vem para
quebrar com um paradigma de tecnologias, mudando completamente o cenário.
[14] Adaptação do cenário híbrido ao cenário de estratégia
de vantagem competitiva do mercado. http://blog.amadeusconsulting.com/transitional-vs-disruptive-tech-whats-business/. Acessado em 22/06/2013.
[16] Conceito de C4I na guerra: comando, controle,
computadores, comunicação e inteligência, todas interligadas entre si, fazendo
com que toda a operação seja coordenada, e minimize as perdas. Na imagem toda a
operação esta interligada, fazendo com que o ataque seja coordenado, a
infantaria, cavalaria, artilharia façam um ataque coordenado, e o monitoramento
do cenário através de computadores faça a sincronia seja mantida.
[17] Toda companhia deve focar sua missão e agir de acordo
com suas necessidades de atingir seus fins. Assim deve-se trabalhar com
qualidade para que toda análise de dados, produção de conhecimento, filtragem,
sirva como informações verídicas, para que assim possa traçar um plano
estratégico. O último estágio será o retorno da informação ao cliente que o
solicitou (pode ser terceiros ou algum setor interno mesmo), para que assim
possa traçar o plano estratégico e atingir sua missão. The War
Profitters: http://www.expose-the-war-profiteers.org/DOD/military_doctrine/ - Acessado em
12/06/2013.
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