Coreia do Norte – Caso extremo ou estratégia de dissuasão?

Coreia do Norte – Caso extremo ou estratégia de dissuasão? (abril 2013)
Os reais motivos são: sem motivos. Uma Breve Historia
            Coreia do Norte e Coreia do Sul não tem motivos reais para vivenciar este problema que preocupa todo cenário mundial.  No caso da Coreia do Norte com sua política particular, as atuações problemáticas de governos esquerdistas demonstram que suas intenções, como de todos os governos comunistas, são expansionistas, superando o capitalismo. Comum observar porem as explicações para isso são as mais ridículas, porem não são raros os casos em que se observa alto índice de pobreza e desigualdade social, alem de toda corrupção dos governos. Exemplos são bastante como no caso da Nicarágua, Cuba, China, Venezuela e por sua vez, Coreia do Norte.
            A Coreia do Norte com seu governo comunista tem um indicador de ruptura econômica, e uma grande distancia entre classes, isso acontece porque o poder é concentrado em apenas um líder, e todo o poder de decisão esta nas mãos de seu executivo. O país mostrou estagnação, socialmente o país passa por diversos problemas que não são vistos comummente por outros, nem por órgãos superiores devido a seu fechamento para o mundo, porem, a ostentação de sua forca militar em largo porte, indústria bélica em larga escala, tanques, mísseis e a mais intimidadora e problemática, a bomba de destruição em massa.
            Geralmente, lideres como este fazem muitos inimigos, mesmo internamente, não deixam que órgãos de fiscalização internacionais façam vistorias, sendo esta uma estratégia desnecessária, pois cria muita especulação sobre os próximos passos de seu líder e seus generais, que em muitas vezes cria paranoia em que todos estão contra ele. Começam os problemas ai.
            Coreia do Sul e um exemplo de um país bem desenvolvido. Toda população tem capacidade financeira, a oferta de emprego e alta, a população demanda tecnologia, e a sociedade tem acesso à educação. Ambas as coreias estão na mesma área geográfica, mas a divisão de fronteiras gerou problema, e este não é um motivo real para guerra total. A Coreia do Norte tenta demonstrar seu poderio militar, e a todo o tempo criando propaganda de ódio, que cresce mais a discórdia dentro do país, propaganda que geralmente e criada por eles mesmos.
            A história começa errada e se arrasta desde a Guerra Fria, após a Segunda Guerra Mundial a divisão da Coreia em dois países diferentes baseado nas conquistas russas pelo bloco Soviético. Os Soviéticos avançaram ate o Paralelo 38, latitude que fica a 38 graus da linha equatorial. Esta linha foi usada para dividir as duas coreias, e o território não esta dividido corretamente, sendo que parte das Coreias avança geograficamente pelo paralelo, sendo o norte comunista e o sul capitalista.
            Ate que em 1948 a Coreia do Sul foi fundada sob o nome de Republica da Coreia e, meses depois, a Coreia do Norte proclamou sua fundação sob o nome de Republica Popular Democrática da Coreia, em Pyongyang, liderada por Kim Il-Sung, historicamente um líder da resistência contra o Japão, decidiu invadir a Coreia do Sul, tentando reunificar as Coreias. A China comunista apoiou a Coreia do Norte e os Estados Unidos da America apoiaram a Coreia do Sul, ate 1953 quando um tratado pôs fim a Guerra das coreias, e um possível acordo para reunificação futura.
            Depois desta guerra foi estabelecida uma zona desmilitarizada, com 4 km de largura e 238 km de comprimento, quase sem população civil, muito hostil e com presença militar concentrada. O sul do Paralelo 38 controlado pelos Estados Unidos e a Republica da Coreia.
[i]
            A situação se tornou cada vez mais quente, a possibilidade do Norte construir bombas atômicas sempre causou tensão entre as Coreias. O avanço da possibilidade de reunificação estava indo bem dos anos 90 ate 2000. Em 1985 houve a primeira eleição popular na Coreia do Sul, levando fim a ditadura e em 1988 ocorreram os jogos olímpicos de Seul. A Coreia do Norte negou participação neste evento em que o mundo via como uma possibilidade de  diálogo entre as duas Coreias. A Coreia do Sul sempre foi aberta ao cenário internacional, desenvolvendo tecnologia avançada e exportando ao mundo e um exemplo dessa abertura econômica. Alem disso em 2002 a Copa do Mundo de Futebol mostrou sua indústria e organização. Esta foi novamente uma possibilidade de dialogo que a Coreia do Norte se negou a tomar parte.
[ii]
Novas Guerras e a Presença dos EUA
            Analisando as teorias entre o realismo clássico e o liberalismo, focando tecnologia, pessoal operativo, capacidade de mobilização, economia, logística, os Estados Unidos são o único país que se encontra posicionado geograficamente e geopoliticamente em todo o mundo. Fato que faz com que este tenha uma resposta rápida para algum cenário extremo, usando meios militares, especialmente ataque aéreo e naval.
            Este poder, combinado com inteligência estratégica eficaz, faz capacidade de um ataque peremptório, interrompendo qualquer ação possivelmente prevista de forca inimiga, sendo esta legal ou ilegítima.
            O caso é que esta resposta rápida e a doutrina adotada de guerra preventiva, a decisão governamental demonstra que o realismo ainda tem muito poder para por fim a qualquer questão bélica.
            Quando a resposta é sobre estado comunista, a mesma teoria prova que o governo e suas políticas de poder, o poder do líder do estado, e a última decisão a ser tomada. Combinada com o a expressão psicossocial e sua economia, calculando previsíveis futuros de ataque e suas respostas, a opinião publica, mídia, redes sociais, sociedade civil, pode ser decisiva para qualquer líder de estado, que deve prezar primeiramente por segurança interna e economia do país. Faz com que a expressão política seja decisiva, por qualquer dos meios.
            O poder de influências políticas, ser credor de diversos países e estar geograficamente e geopoliticamente posicionados, faz com que a teoria da Escola Inglesa, teorizando a balança de poder, diplomacia, legislação internacional e poderes, façam com que os Estados Unidos seja o único país a atuar em duas frentes, ambas fora do continente e obtendo resultados positivos nas duas frentes.[1]
            Então, no caso da Coreia, pode obter uma resposta rápida para um caso extremo, sem que haja preocupação grande no oriente médio, em caso de ameaça a soberania própria ou de seus aliados.
            Mesmo em novas guerras, causadas por assimetria no poder entre as nações, calculados verticalmente em sua economia e poder militar, a decisão final é da política de estado, então agindo junto a pessoal civil, militares privados contratados e companhias militares privadas operando junto à forca armada pública, ainda assim fazem com que a decisão final seja do poder publico. No final a decisão estatal é a mais importante das decisões.[2]
Ceticismo pela Guerra
            Pelos teóricos e uma discussão eterna, os pessimistas sempre dirão que a resposta será a guerra, os otimistas sempre pelo comércio e diplomacia. Mas, como jogar uma bomba de destruição em massa dentro do próprio território? A capital Pyongyang fica próxima da fronteira. Além disso, se a questão é expansionista, utilizar uma arma de destruição atacando à própria área geográfica, meio ambiente e indústria, seria atirar no próprio pé, uma ação extrema e impensada.
            Coreia do Norte usa a propaganda a seu favor, estratégia de mostrar ao mundo sua força, mostrando seu exercito gigante, forca aérea e naval fortemente operante, manobras militares sempre abertas, em que algumas delas são muito questionadas quanto à veracidade. Seu atual líder, Kim Jong-Um faz qualquer propaganda ser bem irreal, sua mídia apela por imagens bem estruturadas de movimentos organizados, marchas sincronizadas, aplausos e vibração do pessoal militar sedento pela guerra.
            Como todo estado comunista, a estranha relação vai alem da política, a imagem pode mover o sentimento da população, seu líder e eterno, Kim Il-Sung, que morreu em 1994. Esta é a expressão de poder psicossocial, que eternizou um líder, fazendo com que o mártir da nação seja ainda o único tomador de decisão, e todos os lideres seguintes apenas seguirão seus desejos. Kim Jong-Un, como qualquer outro líder comunista estilo Chavez, Stalin, Mao Tse Tung, sempre usou belas imagens, foto montagens, atraindo atenção de sua população e aliados internacionais.
            Essa Síndrome de Heróstrato cabe nessa atuação como tomador de decisões, assim por esta teoria demonstra que os governantes Kim Il-Sung e Kim Jong-Um, tem a mesma necessidade de aparecer na mídia, tratar de alardear publicamente conflitos, e se tornar públicos por serem heróis da nação. A ideia de se glorificarem por seus atos, sendo reconhecidos eternamente.[3]
[iii]
            Este experimento de Schrõdinger mostra a relação entre a imagem e a liderança de fato. Algumas fotos podem ser questionadas como montagens. Como a manobra militar, um treinamento na fronteira em que hovercrafts estão avançando contra a costa e seus oficiais estão estranhamente misturando com o cenário.[4]

[iv][v]
            A estratégia de dissuasão ocorre quando o país não tem intenção de atacar, mas e usada para mudar a decisão inimiga, fazendo que ele pense que o rival e maior e mais forte. Neste caso as imagens são jogadas na internet, televisão aberta e há espera por resposta. A Coreia do Norte, com seu líder talvez imaturo devido suas exibições diárias, tem intenção de atacar moralmente a Coreia do Sul, pondo este em uma posição de desistência. Ainda mostra aos Estados Unidos, seu principal aliado, que tem mais forca e é melhor que não haja interferência.
            Qualquer ataque na capital da Coreia do Sul seria rapidamente respondido, mas as consequências de um ataque seria um “auto ataque”, primeiro pela proximidade territorial e depois pelo acesso por todos os lados do país. Podendo ser explicado pelo behaviorismo, usando guerra psicológica, metodologia combinando uso a beleza de imagens confrontando a população em apoiar a guerra, causando efeitos psicológicos demonizando seu inimigo, responsabilizando-o por todos os problemas.
            A anarquia internacional não depende apenas do fator humanos, e uma decisão simples de um estados como um organismo vivo, seguindo princípios de auto defesa.
[vi]
            O mapa mostra a situação, Seul esta bem próxima à fronteira, qualquer ataque seria respondido.
            Geograficamente Seul está muito próxima da fronteira, em primeiro lugar. Em segundo lugar, Pyongyang esta próxima ao mar. As duas capitais estão em áreas de risco, Pyongyang está situada num lugar aberto para ataque de qualquer natureza, mesmo ataques a longas distâncias. Ainda, qualquer ação militar de Seul rapidamente seria ofensiva. Os quartéis generais das forças armadas estão situados em Seul.
            A Coreia do Sul tem o sexto maior exercito do mundo, dividido em três exércitos, sendo o terceiro responsável pela defesa da capital e o oeste da zona do Paralelo 38.
            Agora a posição dos mediadores, Estados Unidos e China, pode ser essencial. China e Estados Unidos têm divergências políticas, ambos credores em dólar de qualquer país. A economia chinesa não é estável, mas de qualquer maneira, pode agregar bilhões de dólares, sendo a maior reserva de dólar fora dos EUA. Os EUA tem que ser diplomáticos diante de tal situação. Ainda mais que a China não tem interesse nos EUA como tomadores de decisão no próprio território. China e o país mais poderoso na Ásia, mais que o Japão ainda, por sua capacidade de exportação e poderio nuclear.
            O poder da Coreia do Norte então pode ser um estilo de “Haka”, mostrando um poder que eles mesmos não têm, mas influenciando a decisão do oponente com impacto visual e dissuadindo o oponente.[5]
Presença Chinesa sem Armas
            A China sempre foi a mediadora da região, por sua expressão de poder estratégica, através de sua superpopulação e a alta capacidade de produção. A indústria de engenharia reversa e produção em larga escala fez com que a China abastecesse o mundo de acordo com as necessidades da demanda. Assim os produtos chineses vendidos a preços baixos fez com que o consumo de seus produtos a deixasse numa posição de ser a maior reserva de dólar do mundo.
            Provando a legitimidade do realismo político como teoria, a história comprova que China sempre conteve com mão de ferro suas insurgências, exemplo do Tibete, que o poderio chinês fez com que a Índia se afastasse da causa. Mesmo em uma possível reunificação pacifica, se a Coreia do Norte quebrar, a China domina a região com 90% do petróleo, 80% dos consumidores e 45% da alimentação.[6]
            Os custos para a guerra sempre são altos, portando durante a crise que se instaurou em 2008 e a crise europeia, os EUA não estão em posição de apoiar uma guerra.
            Assim a China joga como mediador entre as duas coreias, ideologicamente próxima a Coreia do Norte. O verdadeiro jogo então passa a ser entre os atores China e EUA, fazendo com que as duas Coreias sejam coadjuvantes. Os EUA causando desconforto no território chinês.
            Entretanto a China não tem interesse nas duas coreias, a verdadeira preocupação e com a própria China perder poder de influência para os Estados Unidos, que já tem apoio alem da Coreia do Sul, do Japão, a soberania na região poderia ser questionada.
            A presença desta hegemonia e crucial para qualquer das Coreias tomarem qualquer decisão. Mesmo essa presença sem armas, a China ainda assim pode usar qualquer aparato bélico para conter, já que na região ainda e que mais possui armas.
Conclusão
            Possivelmente a guerra não vai acontecer porem continua uma historia de tensão. Seguindo o rumo da historia, calculando possíveis cenários entre um cenário canônico em que a Coreia do Norte declara guerra total ao Sul e aos EUA causando situação irreversível, e a possibilidade de uma paz perpétua na região iniciando um cenário otimista. Dois extremos com um meio cheio de incertezas, mas seguindo a lógica do dilema do prisioneiro, ambos estados não sabem da decisão do outro, mas jogam para si mesmos.[7]
            Washington mesmo desmentiu a possibilidade de um ataque direto, mas regressar suas forcas pode ser perigoso, tanto que enviou o Navio Destruidor USSFitzgerald para fortalecer a segurança na região.
[vii]
            O futuro próximo mais possível e que a Coreia do Norte continue ameaçando e mostrando poder e nada aconteça até que a China deixe a questão de lado, assim o mais forte dos aliados saindo do embate a Coreia do Norte regressara nos discursos e ficara investindo em propaganda interna e recursos militares.
            No caso de guerra o principal problema não e a China interferir exatamente, e que os EUA atuando de um lado do globo, do outro lado, no Oriente Médio, um movimento de retaliação contra o ocidente e seria forte. Assim os EUA teriam duas frentes para se preocupar, uma militar no Oriente Médio e uma no Extremo Oriente econômica.
            Mais uma vez, o Realismo Político pode responder qualquer atitude, mesmo as teorias idealistas tomam como decisão final a proteção da soberania do Estado. Se for necessária a guerra vai acontecer, mas não demanda só de discursos e de opinião publica como o Sr. Kim Jong-Un faz parecer diariamente.



[1] Hedley Bull deixa claro que após a Guerra Fria fica incontestável a hegemonia dos Estados Unidos. Baseado na Escola Inglesa em que analisa-se a balança de poder dentro de um grupo de estados que pertencem a uma sociedade internacional, conclui-se que os países dentro de um sistema internacional há hegemonia dos EUA.
BULL, H. Sociedade Anárquica.
[2] Conceito explicado por Mary Kaldor em que as novas guerras criam um novo contexto em que o poder publico se funde a outros setores na guerra. Este novo cenário de guerra aceita não só o agente publico como também setor privado, empresas mercenárias, grupos de insurgência, civis na guerra, terroristas, organizações virtuais, etc. KALDOR, M. Global Civil Society.
[3] BOROWITZ, A. Terrorism For Self Glorification – The Herostratos Syndrome.
[4] Paradoxo criado pelo físico Erwin Schrõdinger em que um gato preso numa caixa junto a um frasco de veneno que será quebrado e libera o veneno caso o gato acione um contador. Só se sabe se o gato esta vivo ou morto se abrir a caixa. Assim o líder em questão estando vivo ou morto ainda tem o direito de poder, e apenas a imagem e desejos por ele motivados são válidos num meio social. Assim podemos justificar a necessidade do líder eterno.
[5] Haka é dança típica tribal da Nova Zelândia, famosa por ser usada atualmente pelo time de rúgbi para amedrontar oponentes.
[6] KAHNNA, P. How to Run the World – Charting a Course to the Next Renaissance.
[7] FERNANDEZ, T. M. – Crise na Península Coreana: Uma Resenha Sobre as Reais Possibilidades de Conflito. Disponível em: http://mundorama.net/2013/04/11/crise-na-peninsula-coreana-uma-resenha-sobre-as-reais-possibilidades-de-conflito-por-thais-moretz-sohn-fernandes/#more-11079. Acessado em 21/04/2013.




[i] Figura 1 – Divisa do Paralelo 38 na Zona Desmilitarizada. Fronteira das Coreias.
[ii] Figura 2 – Fronteira do Paralelo 38, mostrando a divisão das Coreias pela linha imaginaria.
[iii] Figura 3 – Manobra militar treinando a defesa da costa.
[iv] Figura 4 – Detalhe no Hovercraft em que parte dele se funde com a água.
[v] Figura 5 – Transparência na figura do soldado mostrado na foto, questionando se o soldado seria mesmo real.
[vi] Figura 6 – Mapa da península coreana, mostrando a divisão real dos dois países.
[vii] Figura 7 – Navio contratorpedeiro destruidor (Destroyer) USSFitzgerald (DDG-62) enviado para a Península Coreana. Atualmente a classe de destruidores fazem defesa da 7ª frota, operando no Oceano Pacifico e no Indico, tendo seu porto natal em Yokosuka, Japão.

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