A Vitória da Realpolitik na Guerra Contra o Terror – Dos nazistas ao Vietnã ao Iraque e mercenários
A Vitória da Realpolitik na
Guerra Contra o Terror – Dos nazistas ao Vietnã ao Iraque e mercenários
Pensar
nos estudos estratégicos, mesmo com toda a questão da doutrina assimétrica, não
nos permite que deixemos de lado os pensamentos mais clássicos, dos
doutrinadores dos Estudos de Segurança Internacional. Buscar uma forma de
explicar como funciona esse realismo não foi fácil, quando toda a política
demonstra um caminho contrário as atitudes, porém qualquer ação tomada contra
uma violência explícita, como no caso do terrorismo, é válida.
As
ações tomadas contra os terroristas após o 11 de setembro iniciaram um novo
século, voltado para a defesa, e baseado nas próprias premissas do Alemão, Karl
Haushofer, os EUA subdividiram o mundo em zonas de controle, as quais seriam
mais fáceis de ser comandadas localmente, com requisitos operacionais para seus
mantimentos. As respostas aos ataques foram a retomada de assuntos primários,
secundários e terciários sobre os interesses do mundo. A série de respostas foi
de uma agenda realista, que mostrou que a ausência de conflitos não era a
mudança de paradigmas, mas um lapso no sistema anárquico internacional.[1]
Dentro
das relações de poder, durante a Guerra Fria foi visto um florescimento do
número de civis envolvidos nos assuntos de guerra e defesa, com isso, toda a
parte estratégica foi feita com apoio teórico e estratégico dos civis, e no
início do século XXI, também há incremento de civis nas questões operacionais e
táticas. Isso tudo se deve pela necessidade de adequar os assuntos da guerra a
realidade em que o cenário que esta se desenvolve, logo, tratar de Afeganistão,
toda a crescente descentralização da natureza de comando, se fez necessário uma
estratégia de comando híbrido, que trabalhasse com diversas frentes e diversos
cenários interligados.
Quando
tratamos da contenção, a real estratégia dos EUA sempre foi em conter avanços
inimigos, porém a extrema forma a qual as forças americanas se fizeram contra
os considerados terroristas prova que a teoria mais básica das relações de
poder nas RI ainda se faz presente e com muita força, pois a política sempre
demonstra busca por pode e palavras como imperialismo, contenção ou dominação,
são comumente usadas, porém nem sempre com base para sustentá-las.
Tratemos
então sobre sustentar com teorias os fatos decorrentes da expansão dos EUA
diante de diversas frentes de combate sobre um teatro operacional irregular,
facilitando na política de contenção de ameaças. Neste caso, o terror que a
Guerra Fria trouxera estava em um cenário favorável e ainda contornável do viés
político, mas com a Revolução nos Assuntos Militares da Rússia, e as novas
configurações globais, o 11 de setembro não se davam mais por atores estatais,
mas o mesmo discurso do Bush, não apagou a premissa realista, que pudera ser
muito bem aplicada, nem mesmo as neorealistas.
Para
a linha do neorealismo de Waltz, o Estado maximiza sua economia, partindo do
princípio de maximizar a utilidade da microeconomia, sendo então o próprio
responsável pelo provimento de sua política e segurança. Dentro da premissa da
Guerra Fria, em que os dois atores embora diferentes fossem capazes de prover
sua própria política econômica no cenário. Tratar Bin Laden e Saddam Hussein
como atores racionais tem sido um grande confronto de idéias nos teóricos.
Tratar
assimetria como algo contemporâneo ou pós Guerra Fria é outro erro comum, já
que Clausewitz mesmo tratava em seu livro sobre assimetria de forças entre
estados, isso levando em conta suas políticas, forças militares, economia, etc.
Ainda que analisar a guerra assimétrica, não existe uma guerra que haja sido
regular entre forças. Portando o que há é uma adaptação no pensamento da guerra
com sua contemporaneidade, inclusive no que se diz o uso de civis na guerra,
que tampouco é algo exclusivamente contemporâneo. Van Creveld tratava esse
assunto como comum antes mesmo da primeira guerra. Vide na Segunda Guerra seus
comandantes eram civis, como Chirchill, Hitler, dentre outros.
No
livro II de sua obra, Clausewitz trata sobre a questão do armamento, a
necessidade de saber se utilizar deles, e a indústria bélica dos Estados sempre
buscando fortalecer seu aparato sobre os outros, isso é visto perfeitamente nas
questões da Guerra Franco-Prussiana, em que a Prússia possuía uma força muito
superior a da França, pois a tecnologia de seus fuzis de assalto era superior,
além de seus soldados estarem fisicamente mais bem preparados.
Tratando
da Guerra ao Terror, o que se refere à tática e estratégia, Clausewitz ditou as
regras para que os EUA invadissem o Afeganistão e o Iraque. Assim como a
contenção também foi usada durante a Guerra Fria. Cercar o inimigo para evitar
seus avanços, conter ameaças dentro de territórios, utilizarem de forma eficaz
sua cavalaria e artilharia, avanços de infantaria, toda a estratégia descrita
por Clausewitz.
Contra
atacando exércitos, terroristas trabalham com sua tática voltada para
dispersão, muito mais voltada para efeitos psicológicos do que pelos danos
causados propriamente ditos. Táticas de Guerrilha passaram a ser utilizadas em
confronto, equivocando-se também os que dizem ser pós Guerra Fria, desde Troia,
Hunos, até Mujahejins trabalham com suas táticas voltadas para fins.
Guerra
de Guerrilhas foi empregada de forma consistente na Segunda Guerra Mundial. O
Avanço nazista com a promessa de uma Europa nacionalista, voltada para o
desenvolvimento, fez com que grupos nacionalistas locais se levantassem contra
a Alemanha de Hitler, em uma guerra de descolonização contra sua ocupação, em
países como a Iugoslávia foi bem definida essa guerra em que o exército
imperial foi subjugado pelo exército de guerrilhas. Mesmas guerrilhas que
ocorreram anos após na descolonização de países da África, porém dada em
contextos diferentes. [2]
Existe
um ponto em que a Guerra se volta para um objetivo, geralmente comandado pelo
órgão supremo, o chefe da política dos Estados, este ponto se volta sempre para
a segurança interna e sua economia, a credibilidade política se torna essencial
para a figura do comandante. Bush durante a Guerra Contra o Terror se tornou
uma figura essencial, definindo quais direções a política iria tomar: uma
política de Guerra Total, contenção, certo e finalizar o inimigo. A Marcha
seria essencial para a soberania dos EUA no Oriente Médio, fazendo frente a um
exército que ainda deveria ser encontrado. A Marcha já descrita por Clausewitz
põe em ordem toda uma tropa que deve se deslocar, causando um impacto na
psicologia do inimigo, neste caso um que não se apresentou como corpo.
Quais
teorias que trabalhariam neste caso? Geopolitik de Haushofer, Teoria da Guerra
de Clauewitz e Realpolitik dos teóricos clássicos, e assim vemos como que
outras teorias não foram capazes de explicar a capacidade dos EUA em conterem e
continuarem se mantendo como ainda maior força militar e econômica do mundo.
Keegan
trabalha a questão da Segunda Guerra de forma muito consistente. No seu livro,
Mein Kampf, Hitler demonstra que a única forma é resistir, esta seria quando
todas as forças seriam derrotadas. Vejamos a Iugoslávia resistindo contra a
Alemanha Nazista, Argélia resistindo contra a França, Vietnã resistindo contra
os EUA, e finalmente o Afeganistão resistindo contra os EUA. Cada movimento de
guerrilha deste se tornava único para a derrota dos países que os atacava,
porém a população pagava com uma baixa de civis não envolvidos na guerra muito
grande. Deste modo, Hitler conseguiu implantar bem sua teoria, e até pode se
afirmar que os nazistas venceram a guerra, como há uma forte afirmativa da
vitória dos EUA no Vietnã.
Vejamos:
a quantidade de bombas jogadas, a população diminuía de forma constante de
causas naturais, pois a geografia não comportava nem mais recém nascidos, além
de doenças, porém os altos custos fazem com que o País se retire e não tenha
como manter nem influenciar filosoficamente a população local, gerando a
retirada das tropas sem a finalidade. Este é um ponto que os EUA falham em
atuar no Oriente Médio, e toda preocupação com o Irã deve ser bem pensada,
antes de qualquer atitude e avanço. Logo o que acontece, é que apesar dos
nazistas vencerem a guerra, a Europa não se viu livre das guerrilhas, milícias
locais, e se fraquejou diante do incontável número de adeptos, assim como no
Iraque e Afeganistão, dificilmente após a retirada das tropas, haverá condição
de uma unidade pacífica.[3]
Neste
caso, o ataque massivo e a destruição total do inimigo, com previsão deste fim,
foi uma das soluções encontradas por Kissinger durante a Guerra do Vietnã, como
foi a mesma dos nazistas durante a guerra, assim como da França na Argélia, não
fugindo da visão do Obama em atacar com Drones qualquer ameaça que ele ache que
possa se levantar contra seu governo. De fato o ego do governados acaba sendo
importante, em deixar seu cargo sem ter sofrido derrota.
O
fato é que Obama carrega o legado de Bush e seus conselheiros Donald Rumsfeld e
Dick Cheney, ambos além de secretários do governo, ainda empreiteiros de
petróleo, logo a necessidade de dominar um novo local em que houvesse condições
de manter sua economia ativa, sem que houvesse provas concretas que Saddam
Hussein tinha ligações com a Al-Qaeda, tampouco outros grupos terroristas,
tampouco armas de destruição em massa, tampouco interesse em invadir novos
países, além da derrota histórica no Golfo em 1991, era factual. Houve a invasão,
provando que a anarquia internacional ainda era a lei maior que ditava o
comportamento entre os estados, sendo estes donos de seus atos.
Um
poder militar como o poder dos EUA não havia motivos para se preocupar com
qualquer tentativa de frenagem de sua ação, vista a situação econômica dos
outros países do conselho de segurança da ONU e suas agências, facilmente
emendava então uma guerra na outra. Neste momento a Revolução nos Assuntos
Militares se tornou mais que visível e volta a tona uma discussão entre
tecnologia, descentralização das forças armadas, mercenarismo. O uso de novas
armas que apareceram no cenário foi diretamente questionado pelos que eram
contra a política de contenção. O uso de munição diretamente articuladas por
GPS apareceu, tal qual o uso de VANTs, o laptop então se tornou uma poderosa
arma em campo, com o advento da Guerra Cibernética que passou a ser tratada a
partir deste momento. O novo cenário era questionado pelos teóricos como uma
nova geração da guerra, uma nova guerra, porém a guerra continuava a mesma, o
mesmo interesse de 1991, como a mesma forma de cerco já descrita por
Clausewitz, porém com equipamento mais preciso, tecnologias que até então não
serviam como armas (pelo conhecimento da população).[4]
O caso do Iraque
Ainda
sofrendo sansões de 1991, o Iraque não possuía armamentos mais novos do que 15
anos, além da falta de tecnologia para pô-los em ação, a falta de uma indústria
de energia elétrica no país ajudou que os iraquianos não tivessem uma
resistência forte, responsável pela morte de 138 americanos. Fora a quantidade
de contratados operacionais para a guerra, o que fez que o número de soldados
operando fosse acima do esperado. Os chamados PMC, foram responsáveis por
grande parte das operações, e sem uma forma de controle de pessoal, a vitória
sobre Bagdá foi clara.
O
terrorismo, chamado por Rumsfeld para designar os focos de resistência que de
Bagdá se espalharam rapidamente por todo o Iraque, começou quase todo de uma
vez só. A guerra já estava longe de ter uma ordem, além da resistência, os
snipers posicionados em todas as partes, soldados, contratados civis,
trabalhadores estrangeiros, colaboradores, civis não armados, todos passaram a
ser alvos; alguns mortos, outros seqüestrados, outros vítimas do assassinato em
frente as câmeras. Creveld mostra neste ponto a vitória dos terroristas sobre
os americanos. Um ponto muito difícil de ser trabalhado, devido à natureza do
terrorismo. Fora provado que o Iraque não tinha envolvimento com o terrorismo,
que praticamente começou com o início da guerra diante da assimetria de força
entre os dois lados que participavam. Creenshaw trata este aspecto psicológico
da principal questão do terrorismo.[5] [6]
Os
insurgentes, quem fossem e onde estivesses, estavam munidos de uma variedade de
armas leves, dentre estas os fuzis de assalto, mísseis antitanque e antiaéreos,
granadas de mão, metralhadoras de todos os calibres, morteiros, os katyushas,
explosivos improvisados de todos os tamanhos. Os explosivos improvisados (IED)
se tornaram as armas mais perigosas, devido às localizações que eram postos. O
Iraque possuía vantagens a oferecer, como o clima desértico, cenários
montanhosos, vegetação densa, população empenhada, inclusive de crianças que
faziam um importante papel. Assim como na África, as crianças tiveram um papel
importante nas mãos dos insurgentes, devido à cultura ocidental, a figura da
criança seria um choque para uma tropa lutar contra.
Saddam
Hussein criou uma situação em que centenas de milhares de homens com
experiências militares cresceram no país que vivia com sansões internacionais,
logo, não atendiam as necessidades de uma boa educação, sem condições de
pilotar uma aeronave ou com um conhecimento em computadores. Em compensação
sabiam utilizar armas leves, fuzis e lança foguetes, sabiam preparar bombas
caseiras, se tornando efetivos num combate. Esta vantagem em conhecimento de
guerrilha dava vantagem aos iraquianos que os americanos, com toda
superioridade, não tinham.[7]
Vendo
a história se repetindo quanto ao desgaste das tropas pelas guerrilhas, e a
vantagem sobre as tropas.
A Espada!
Operações
Especiais, espionagem, terrorismo, mercenarismo, nunca foram tabus dentro de
instituições. Durante a Guerra Fria a OTAN em conjunto com a CIA comandou uma
operação secreta que se chamou Operatio
Gladio (Operação Espada), que mantinha uma rede por detrás das forças
armadas da Itália, buscando informações do envolvimento de seus chefes de
estado com o comunismo, tal qual o avanço da URSS ao ocidente. O cenário de
operações era atuar na Europa e a estratégia era criar tensão impedindo uma
ascensão da esquerda ao poder.
Como
aliados em diversos países que queriam deixar de ser colônias, desde os anos
1960 havia tentativas de golpe, que eram contidas e implantadas ditaduras pela
Europa e suas respectivas colônias, como foi o caso da Turquia e da Argélia. A
Itália aprovou em 1958 uma nota que oficializava o apoio de sua força armada, e
chamada de “stay behind”, o exército
italiano operava nos bastidores do cenário político, criando tensão e atacando
preventivamente os comunistas que vinham crescendo na Itália. Essa operação
vinha desde o final da Segunda Guerra Mundial com apoio de ex membros da
polícia fascista e nazista em apoio a derrubar o regime comunista na Europa.[8]
Independente
da forma que é dada a operação, o poder do Estado sobre sua Nação é dada
através de uma força e poder de coerção, visto que a nação tem limites impostos
pelo Estado, que por sua vez trabalha se mantendo soberano. Assim Maquiavel e
Hobbes são mais contemporâneos do que diversos autores que tentam quebrar suas
teorias, já que pelas próprias palavras de Maquiavel em O Príncipe, qualquer
ato pode ser justificado pelo bem estar, promover a prosperidade e estabilidade
de seu domínio. No caso da Operatio
Gladio, a Itália reconhece que havia ligações com a CIA durante o período
da Guerra Fria também reconhece que seu exército secreto atuou na luta contra
os comunistas.
No
mesmo cenário na América do Sul a chamada Operação Condor contou com a presença
da inteligência dos EUA atuando junto aos governos dos países para conter os
comunistas que buscavam tomar o poder. Desde 1945 já era avisado na América do
Sul o avanço comunista, desde então houve uma série de acordos bilaterais entre
os países, fornecimento de armas e financiamento dos EUA para os países, além
do destacamento de conselheiros militares para as forças armadas
latino-americanas e formação de oficiais latino-americanos nas escolas
militares dos Estados Unidos.
Essa
grande mudança na forma de atuação se deu por conta da tomada do poder em Cuba
porFidel Castro, passado de um acordo ou negócios para uma ação de inteligência
e guerra. Com essa política obsessiva dos oficiais, foi gerada uma rede de
inteligência ultra-secretas entre os países da América do Sul.
Com
base neste modus operandi, a Argentina vivia uma transição, em 1976, quando
Juan Domingo Perón aumentou a política de forças na Argentina e autorizou a
formação da “Triple A” (Aliança Anticomunista Argentina). Sendo assim acusado
de estar implantando uma ditadura no modelo Brasileiro, que já vinha desde
1964, sob governo dos militares trabalhando contra a expansão do comunismo no
Estado.
O
general comandante chefe do exército brasileiro, General Breno Borges Fortes, concordava
que a luta contra o comunismo era questão exclusivamente das forças armadas dos
países, e que apenas o intercâmbio de informações era válido quanto a
intervenção de outros países, o que fortaleceu este mesmo intercâmbio. A
inteligência dos países, formações em escolas militares estrangeiras se
intensificou.
Esta
operação gerou aproximação dos governos da América do Sul e da Itália, em que
havia a Guerra Secreta com os mesmos propósitos, fortalecendo um laço e criando
uma rede antiterrorista, cujos comandos europeus trabalharam na América do Sul
junto aos exércitos e grupos de inteligência. Os comandos italianos trabalharam
junto a Pinochet para combater terroristas no Chile.
A
Operação Condor teve seu fim após a queda do comunismo, e com a frente dos
comandos contra os sandinistas na Nicarágua, com o excesso de guerrilha que
ocorreu no país, esta operação foi se dissolvendo junto com o fim dos governos
militares na América latina.[9]
O caso do Afeganistão
O
poder da Geopolítica sempre foi impressionante. Situar fisicamente uma
organização de rede foi uma grande oportunidade de adentrar o que por muito
tempo pareceu impenetrável. Por o Al-Qaeda ser uma organização de rede mundial,
o mais sensato era que os americanos travassem uma batalha clássica de
contra-insurgência mundial.
Na
sombra da Guerra do Iraque, e a Operação Libertação do Iraque, enquanto os
americanos eram mortos por snipers
iraquianos ao mesmo tempo em que derrubavam o governo do Saddam Hussein,
caracterizava o fim do futuro iraquiano pela guerra. Em 2003, enquanto a guerra
corria no Iraque, o Afeganistão tinha um papel grande paralelamente. A
violência intensa no centro do Iraque sunita prova que a guerra não encerra,
apenas tira sua folga, já que é explicada por Clausewitz que vem da política e
da tormenta social. Os militares a este ponto são instrumentos da arma estatal
mesmo que a diplomacia seja a arma principal.
Este
estado de guerra interminável já previsto por Clausewitz se arrastara desde
1991 pela Primeira Guerra do Golfo. Vitória de forma declarada abrupta, não
desmilitarizar o sul iraquiano e criar links com insurgentes anti-Saddam.
Pontos que não convergiam entre as estratégias políticas e militares.
Afeganistão
e Iraque eram duas situações similares. Ambos estados proviam uma ideologia que
podia ser “contida, mas não detida”, assim com o cenário de fim da guerra,
seria seguido de um período de paz sangrenta.[10]
O
Afeganistão sempre foi um país tomado pela corrupção, os senhores da guerra
sempre foram muito influentes na sociedade, remontando a história que os
Mujahejins foram formados para combater os soviéticos. A incompetência da
burocracia Talibã tornou um país como uma empresa falida, já que o Estado
praticamente não existe.
Neste
cenário de guerra sem clareza, o comando do Afeganistão caiu dividido entre
dois comandos, o CENTCOM e o SOCOM. A SOCOM em teoria deveria ser o braço da
guerra contra o terrorismo, mas por conta dos conflitos internos entre os
comandos da área, mesmo assim conseguiu operar em 150 países em 2003.
O
SOCOM acreditava que pequenos grupos de guerrilha formados por homens armados e
experiência lingüística e cultural, são mais eficazes do que a indústria bélica
similar a da Segunda Guerra Mundial. O Al-Qaeda era grupo insurgente no mundo
todo, a idéia agora era lutar com um grupo insurgente a nível mundial. Além do mau
funcionamento do Afeganistão em 2003, ainda havia conflitos internos étnicos,
tadjiques, turkomens e uzbeques eram aliados aos seus compatriotas étnicos na
ex-União Soviética, no norte. No sul os pashtuns aliados com o Paquistão. Esse
fluxo incessante de guerrilha após o regime Talibã levou os EUA a abandonarem o
Sul do Afeganistão. [11]
A
invasão em 2001 foi recebida por um coro de previsões baseadas em premissas
históricas da academia e da mídia. Toda uma questão esotérica envolvia a
invasão como uma catástrofe que se formava. A novidade que foi o reconhecimento
da Al-Qaeda como um ator trouxe o pensamento que os americanos não conseguiriam
dar conta de uma guerra fora de seu continente contra tal inimigo, isso baseado
nas premissas históricas da Guerra Fria, em que os afegãos nunca haviam sido
derrotados por inimigos estrangeiros. A capacidade dos americanos em lidar com
a guerra no momento mostra que quem acreditou que a tecnologia era superior tem
uma visão muito limitada dos fatos.
Retomando o Iraque
Após
grande parte das tropas iraquianas serem derrotadas, apesar da força dos
americanos, tudo no final não passou de uma inutilidade do ponto de vista
militar. Toda assinatura captada foi de máquinas e não de humanos, portanto
ainda não se sabia quem eram os verdadeiros inimigos, se eram membros do
partido Baath, criminosos comuns, terroristas internacionais, etc. Com isso
houve ocupação de muitas cidades isoladas, e que não possuíam foco de ameaça,
tirando Bagdá e outras cidades onde havia foco de resistência.
Com
a dependência da tropa, contratar iraquiano foi uma das soluções, porém cada
iraquiano poderia ser um espião. Essa dominação da informação foi uma arma
concreta dos iraquianos. A linguagem na guerra é essencial para a comunicação,
quase todo iraquiano possuía um nível de inglês, mas nenhum americano sabia
falar ou escrever arábico. Com essa desvantagem, a guerrilha conseguiu uma
forma sobressair, com o uso da informação, receber alguns aparelhos
sofisticados, celulares modernos, deu uma capacidade de rede própria aos
insurgentes.
A Operação
para Libertar o Iraque (Operation Iraqi
Freedom) nunca foi considerada uma guerra de verdade, seu efeito
psicológico sempre foi mais intenso, sendo chamada de Choque e Temor (Shock and Awe). Essa operação retoma os
tempos do Vietnã. A necessidade de ganhar a guerra elos americanos para
simbolizar uma “guerra pelos corações e mentes” mesmo que não se encaixando com
a censura do governo interino. O fato de mulheres participarem da tortura de
iraquianos nas prisões de Abu Gharib não ajudou muito a situação dos
americanos. Por contra dessas estatísticas, repetindo a história do Vietnã,
houve tentativa de reconstruir o Iraque. Estradas foram restauradas, escolas e
clínicas foram reabertas, comida foi distribuída.[12]
Como
a história se repete, os nazistas nas conquistas no Leste Europeu sofreram
grande retaliação da guerrilha, isso fez com que sua política toda perdesse a
confiança na geografia. O erro pode ser repetido pelos EUA. A dificuldade está
na retirada das tropas do Iraque, tanto quanto do Afeganistão, sem que deixe um
vácuo tanto de poder quanto histórico. A história se repete como no Vietnã, os
erros serão maquiados, mas nunca reparados. Como vemos na Guerra do Iraque,
toda a política de segurança e de soberania dominou a guerra, e nos momentos em
que não se tinha como dominá-la, usou-se de meios alternativos para se chegar
aos objetivos.
O
uso de mercenários tanto no Vietnã quanto no Iraque foi essencial para o
sucesso da tropa, até que se chega à questão da perda da soberania estatal pela
guerra para o setor privado. Trata-se então de manter a economia sempre no
controle da política, e o poder militar privatizado de acordo com as necessidades
do Estado.
Antes da Revolução
Uma
prática comum desde antes mesmo da história moderna, volta a se repetir com
legítima ou legal a questão que foi interrompida desde a revolução francesa.
Mercenarismo é uma prática que desde a história antiga é tomada, e teve uma
grande importância na história medieval sendo interrompida com a questão do
nacionalismo da Revolução Francesa.
Durante
todo o século XX foi uma prática comum, porém na Guerra Contra o Terror tomou
muita evidência por uma questão da difícil possibilidade de invadir o Oriente
Médio sem as empreiteiras militares. Retomando um ponto de partida, desde o fim
da Guerra Fria os mercenários tiveram seus momentos difíceis, porém um novo
conflito já era idealizado, com os islâmicos aderindo a práticas terroristas se
espalhando pelo mundo, havia necessidade de iniciar um novo tipo de segurança
privada ostensiva, nos moldes medievais, pelo contrato de pessoal pronto para
atuar na guerra, independente de sua nacionalidade ou vínculo com o país em
guerra.
Em
2007 foram estimadas 177 empresas privadas aproximadamente e cerca de 50 mil
homens. Esse contrato de empreiteiras militares inflou o número de efetivos dos
EUA no conflito, gerando uma mudança no papel da segurança privada, que
dispunha de escolta de altas autoridades, motoristas, para operativos no
cenário do confronto.
Desde
as décadas de 1990 e 2000 houve uma mudança na atividade mercenária, por
atualmente serem contratos via empreiteiras, a globalização ajuda que os
contratos estejam em todos os lugares do mundo, via internet, operando de forma
ativa em qualquer cenário, porém essa mudança através da globalização retoma o
pensamento medieval do soldado da fortuna, ou cão de guerra, que trabalha sem
vínculo com quem o contrata, sem fé, respeito por direitos ou leis. Isso foi
visto no Iraque quando Scahill acusa a Blackwater de ter excedido os limites,
dedicando uma obra inteira às operações feitas pelos contratados desta empresa,
assim como no mundo pré-Revolução Francesa, em que os mercenários eram os
responsáveis pela atividade de guerrear, e durante o período de ocupação,
excediam seus direitos, como qualquer outro soldado ou oficial.[13]
Esta
retomada de uma era mercenária é visto por alguns autores como o fim do
alistamento militar já programado. O impacto do neoliberalismo se enraizou de
tal forma que dentro das próprias guerras, cenários de agentes públicos, estão
se operando com militaria particular, tanto em termos de soldados como em força
aérea ou marítima. Esta prática de novos mercenários, empreiteiros militares,
pode ser discutida em diversos pontos teóricos. O neoliberalismo pode explicar
as questões de serviços públicos prestados, inclusive em casos de guerra,
tirando do Estado Soberano o papel de detentor único do direito a guerrear. O neoliberalismo
explica que por conta do Estado ser o detentor da macroeconomia, e em uma
perspectiva realista clássica hobesiana, o Estado continua sendo a maior
autoridade na segurança, violando deveres e normas internacionais, inclusive
contratando mercenários para guerrear, para assim garantir sua soberania como
unidade num sistema anárquico. O realismo continua sendo a única teoria que
explica a segurança internacional, sem levar em conta outras teorias.
[1] BUZAN e
HANSEN. P. 346.
[2] CREVELD.
P. 215.
[3] CREVELD.
P. 219.
[4] CREVELD.
P. 245.
[5] É fazer
o paralelo que Creveld tratava sobre Keegan, em relação a colocar a vitória dos
nazistas sobre os países do Leste Europeu, a dispersão das idéias, a
superioridade das tropas alemãs foram gastas devido as pequenas guerrilhas que
surgiram para combater as tropas.
[6]
Campanhas significativas de terrorismo dependem de escolha política racional.
Como uma atividade poderosa, o terrorismo é o resultado da decisão de uma
organização que significa políticas úteis para se opor ao governo. O argumento
de que o comportamento do terrorista deve ser analisado como “racional” é
baseado no pressuposto de que organizações terroristas possuem conjuntos
internamente consistentes de valores, crenças e imagens do ambiente. O
terrorismo é visto coletivamente como um meio lógico para avançar fins
desejados. CREENSHAW. 1981.
[7] CREVELD.
P. 248.
[8] MARSHAW.
http://www.globalresearch.ca/operation-gladio-cia-network-of-stay-behind-secret-armies/9556
[9] ABRAMOVICI.
http://www.globalresearch.ca/operation-condor-latin-america-the-30-years-dirty-war/5326022
[10] KAPLAN. P. 186.
[11] KAPLAN. P. 198.
[12] CREVELD. P. 251.
[13] OSTELLS. P. 200.
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