Theoric Discussion about the use of Private Military Contractors pt. 1 *
2.1 Debate teórico sobre a privatização das forças armadas
James Jay Carafano busca em autores realistas a ideia de guerra para justificar a ação militar dos Estados Unidos. Para Carafano, os militares norte-americanos tem uma similaridade com a tese realista de Huntington entre os poderes civil e militar, buscando profundamente no trabalho de Maquiavel, no quadro de supremacia civil dominando sobre a esfera pública da Guerra. Carafano ainda cita a obra O soldado e o Estado, a qual Huntington comenta que “soldados firmavam para missões e para ignorar implicações políticas de decisões do general não comentando, criticando ou contribuindo para decisões políticas”.[1]
Carafano
faz uma analise histórica do realismo político de Maquiavel em a Arte da
Guerra. Para Carafano (2008; pg. 15) “Maquiavel intitulou a Arte da Guerra como
um guia de sobrevivência para a sua Cidade. Ele temia a respeito do destino de
sua amada terra natal num mundo cão”, e os centros urbanos da moderna Itália,
inclusive Florença, eram ricos e viviam em guerra entre si.[2]
Carafano
mostra que a relação entre as cidades estados e a Inglaterra levaram os homens
de negócio da região, que ordenavam sobre o contado a empregar líderes que
proviam forças militares por soldo. Maquiavel em seu livro propôs o
aproveitamento dos trabalhadores do campo e fazendeiros para o serviço militar.
Porém este exército falhou pois este exército foi direcionado ao campo de forma
precipitada, levando o colapso do exército e ao exílio de Maquiavel do governo.[3]
Embora Maquiavel
não tenha escrito a Arte da Guerra por eras, sua ideia era mostrar como adaptar
princípios militares atemporais para aplicação prática, sendo autor de um guia
para lutas e ganhos de batalhas. Entretanto, este não é o legado de Maquiavel no
mundo ocidental. Hoje Maquiavel é utilizado pelos governos para prescrições
políticas a respeito da guerra justa, embora nunca provera, que nos digam o que
pensar a respeito de contratação para o combate.[4]
Com a privatização das forças armadas e serviços
prestados em geral nas guerras no século que se estendiam desde o século XX,
contratando empresas de segurança e militares privadas, um novo debate surge
nos paradigmas das Relações Internacionais. Ao buscar em teorias surgirão questões
para serem debatidas, como o uso de civis na guerra, admitir agentes não
estatais.
Com a guerra ao terror, e principalmente no Iraque
principalmente, os Estados Unidos mostraram uma forte ligação com a teoria
hobesiana do Leviatã, sendo supremo nas decisões de segurança nacional e de
hegemonia, admitindo qualquer meio necessário para atingir seus fins, sendo um
verdadeiro “clássico” do realismo político. Em contrapartida, uma perspectiva
democrata em admitir, acima das decisões militares, um agente privado para
buscar seus fins, retoma uma política neoliberal de privatizações e de Estado
mínimo, em que o Estado apenas participa da economia, deixando as ações apenas
para as empresas a qual participam da guerra. Visto que mercenários no Iraque
tinham todo o controle da guerra ilegal.
Carafano expõe a construção teórica que forma o
pensamento americano, mostrando que as obras de Maquiavel e de Thomas Hobbes
(1588 – 1679) são base do pensamento de segurança nacional. “Exércitos refletem
suas eras”[5].
Esta escola que baseia nos ideais de Maquiavel e Hobbes é chamada de “realismo”.
Os realistas e neo-realistas, e muitos outros rótulos da mesma vertente, focam
seus argumentos em que o sistema internacional é anárquico, as nações vivem em
competições e que o conflito é inevitável. Estes estados Colidem porque são
atores racionais e constantemente trabalhando para assegurar sua soberania e
maximizar a potência em relação aos outros estados, inclusive alinhando-se com
outras nações para alcanças uma segurança coletiva. A conduta do Estado é
sempre direcionada pela busca por segurança. “É matar ou ser morto – uma
escolha hobesiana”.[6]
Em contraste, o liberalismo, e outras vertentes
derivadas, afirma que as ações estatais representam a vontade coletiva dos
grupos dentro de uma sociedade. “Política internacional e segurança nacional
são produtos da visão cooperativa de poderosos elementos, incluindo
internacionais e instituições multinacionais e as leis e tratados que eles
promulgam”. Para Carafano (2008, 114) o “liberalismo busca uma aproximação
estruturalista para as relações internacionais, acreditando no poder para ser
exercido e distribuído pelas organizações formais e instituições”. No
liberalismo o conflito e a competição entre nações não é inevitável. Carafano
diz que esta vertente aceita que “instituições podem agir para aperfeiçoar a
violência internacional e promover cooperação, confiança, e ação conjunta”. Embora
o liberalismo não tenha raízes tão antigas quanto as raízes do realismo, o
pensamento tem herança ocidental. Ambas vertentes traçam suas origens para dar
direção ao pensamento político e social e progresso na condição humana. Hoje em
dia a ideologia liberal está presente no discurso político, tanto quanto o
ideal realista.[7]
Segundo Carafano:
Quando crenças realistas e liberais são debatidas em público elas soam muito diferentes. Elas fazem diferentes pressupostos e oferecem diferentes recomendações. Elas trilham vozes distintas em campanha.[8]
Carafano mostra que estas duas vertentes têm seus espaços
da mídia e agem para mostrar a sociedade seus ideais, porém não da forma que é
prometido em espaços midiáticos, Carafano (2008, p. 114) diz que “Elas brigam
em notícias a cabo. Elas têm suas próprias estações de rádio. Elas aparentam
estar oferecendo escolhas reais. Mas na verdade, as opções são mais limitadas”.[9]
Para Carafano (2008, p. 114) “Ambas as teorias estão
fincadas em uma herança intelectual comum, dividindo vínculos comuns. Elas se
limitam a avaliar capacidades físicas e limitações de estados e instituições.” Os
fatores utilizados, tanto quanto as influências culturais e ideais, retomando o
pensamento ocidental em Maquiavel, definem o escopo de como as sociedades
pensam sobre segurança. Entretanto, diferentes teorias e crenças norte
americanas surgem no mercado de ideias para oferecer soluções que soam melhor
que no dia anterior. A realidade de como as decisões são tomadas, faz com que
os americanos se tornem cada vez mais céticos sobre indiciamentos de
contratados em combate, e soa como uma boa teoria de conspiração formulada por
algum teórico neoconservador. [10]
De fato, a Guerra já transcende o Estado soberano.
Admite-se que uma empresa privada dê o treinamento necessário, produza o
armamento e de fato envie os homens para o conflito direto. Com a precisão das
armas atuais, é menor o treinamento gasto, já que menos homens irão para o
combate de frente. Uma empresa privada como a Blackwater, por exemplo, dá
cursos de sobrevivência na selva em ambientes de conflito, curso de tiro com
qualquer armamento, a empresa ainda possuí uma força aérea, produz armamento,
inclusive vende armamento para as forças armadas americanas. Estas informações
com datas e modalidades todas estão no sítio eletrônico da empresa, abertas
para qualquer interessado em aprender. Porém apesar de ter perdido o controle
sobre a guerra, o Estado ainda detém da economia, já que ele pode ainda pagar
para que estes exércitos ajam de acordo com seu interesse. A economia ainda
garante a hegemonia do Estado sob o capital.
O embate destes dois fatores entre forças armadas
privadas e economia pode gerar uma desavença entre o capital privado e o
estado, já que o capital privado atua para quem o paga, é a lógica do
mercenário, e o estado pode perder o controle sobre a guerra completamente em
um golpe de estado de empresas que detém o monopólio sobre a guerra.
Uma
consequência que a atividade mercenária pode trazer é a geração de violência na
região. Pela proibição da ONU na interferência de superpotências em países de
terceiro mundo, os estados mais fracos, especialmente os de terceiro mundo, não
dispõe de recursos bélicos para manter sua soberania e acabam recorrendo a
empresas militares privadas internacionais. Assim como os crimes internos
acabam se transferindo para o setor privado também, pois os governos locais não
têm credibilidade em zonas de crise.[11]
Além
disso, as atividades dessas empresas não são apenas o contrato de mercenários,
vão desde a análise de risco para os seus investidores até mesmo a assessoria
aos governos locais em organização militar, compra de suprimentos e
equipamentos bélicos, incluindo também o treinamento e apoio logístico.[12]
[1] CARAFANO, Private
Sector, Public Wars, p. 19
[2] Ibidem, p. 15
[3] Ibidem, p. 15 et seq.
[4] Ibidem, p. 16 et
seq.
[5] CARAFANO, Private Sector, Public Wars, p. 113
[6] Ibidem; p. 113 et
seq.
[7] CARAFANO – Private Sector, Public Wars; p. 113
[8]
Ibidem, p 114.
[9] Ibidem, p.114.
[10] Ibidem, p.114 et
seq.
[11]
FREITAS, A utilização de soldados mujahidins e
mercenários nos conflitos africanos e nos Balcãs: O caso da Somália e da
Bósnia-Herzegovina.
[12]
Ibidem.
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