Convergência Estratégica entre Rússia e Irã

Segue texto publicado na BlastingNews no dia 04 de abril de 2017, com alguns parágrafos a mais, devido limite para publicação.
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Agradeço a todos que puderem ler no site e que possam divulgar meus trabalhos na BlastingNews.
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A administração Trump supostamente procura conduzir uma proteção estratégica entre a Rússia e o Irã na Síria, porém essa cunha não será obtida em curto prazo. Esta noção pressupõe que a cooperação entre os dois países se limita aos esforços táticos na síria e ignora profunda convergência estratégica entre Moscou e Teerã, pois ambos compartilham interesses fundamentais estratégicos, inclusive a repulsão dos EUA no Oriente Médio.

Os dois países são rivais históricos, cada um representa uma ameaça à ordem internacional existente. A Rússia pretende restabelecer-se como uma superpotência global, restaurando a ordem multipolar da Guerra Fria. O Irã pretende tornar-se uma hegemonia regional, expulsando a presença dos EUA do Oriente Médio, minando a Arábia Saudita e eliminando Israel. Portanto apesar da rivalidade, ambos os países provavelmente continuarão a se associar até que possam prever uma possibilidade de alcançarem seus objetivos individualmente.

Suas divergências se dão principalmente em pontos chave. A Rússia não pretende usurpar a influencia regional da Arábia Saudita, tampouco destruir o estado de Israel. Assim mantém equilibrada a diplomacia entre Turquia, Irã, Arábia Saudita e Egito, bem como relações positivas com Israel.

Outra divergência é em relação aos curdos. O Irã teme o separatismo dos curdos. Porém a Rússia vê os curdos como uma alavanca entre potências regionais e internacionais, incluindo EUA, Turquia, Irã e Iraque. Entretanto, não oferecem nenhum apoio significativo para um Curdistão independente.
Embora divirjam em pontos chave, os dois países preferem cooperar na região, assim assegurando que seus objetivos estratégicos sejam alcançados.

Em relação à Síria, ambos apoiam o regime contra seus adversários. O regime amigável no Irã em Damasco fornece uma base segura para apoiar o Hezbollah e conduzir operações contra Israel. A Rússia exige um regime disposto a garantir acesso em longo prazo às suas bases no Mediterrâneo, desafiando hegemonia dos EUA e OTAN na região.

Mesmo que Vladmir Putin abandonasse o apoio a Bashar al-Assad, não abalaria a parceria entre Rússia e Irã, devido suas razões de cooperação.

Ambos querem minar a presença dos EUA no Iraque, Impedindo que o país se torne uma base hostil, já tendo um cenário passado da Guerra Irã-Iraque contra o ex-presidente iraquiano Saddam Hussein. Já a Rússia formou uma célula de compartilhamento de inteligência com o Irã, Iraque e Síria e aumenta seu apoio de atores políticos alinhados com o Irã em Bagdá
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As milícias Iranianas pressionam o governo do primeiro-ministro iraquiano Haidar al-Abadi, ameaçando politicamente sua substituição por um líder pro-iraniano.

Ainda buscam que o Afeganistão se torne um estado tampão estável, excluindo a presença dos EUA e OTAN da região. Portanto mantém sua presença e cooperação no país.

Tanto o Irã como a Rússia procura retirar a Turquia da influencia direta dos EUA e da OTAN, ao mesmo tempo em que acabam com o apoio de Ancara aos grupos de oposição da Síria. Também se opõe a visão estratégica Neo-Otomana do presidente turco Recep Erdogan, de afirmar domínio econômico, cultural e militar turno no Oriente Médio.

Ambos os países também incentivam o movimento do Egito longe dos Estados Unidos e do Golfo. A Rússia, buscando por novas bases militares no Mar Mediterrâneo e no Mar Vermelho, busca aliar-se ao Egito, controlando o Canal de Suez.

Cairo é visto por ambos como um contrapeso para a Arábia Saudita, para a liderança dos árabes sunitas no Oriente Médio.

A presença no Cáucaso é dada pela forte aliança que a Rússia mantém com a Armênia. O Irã também apoia a Armênia como contrapeso ao Azerbaijão, acusando o Azerbaijão de fornecer a Israel uma base militar para coleta de informações e treinamento.

Contudo, ambos países pretendem dividir a União Europeia e a OTAN, vendo ambos como ferramentas de dominação dos EUA na Europa. A Rússia pressiona a OTAN através de exercícios militares contínuos, também com apoio de partidos políticos nacionalistas. O Irã incorporou em sua política crítica a União Europeia, incluindo publicamente o apoio à Brexit.


Não há nada artificial ou inerente sobre a coalizão entre a Rússia e o Irã. O relacionamento entre ambos baseia-se numa jogada de interesses e objetivos estratégicos comuns. Os dois países estão construindo uma coalizão militar que possa operar em toda região que estende-se do Mar Mediterrâneo ao Golfo Pérsico. 

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